O homem
para ser salvo e andar como tal precisa conhecer Deus. Jamais teremos
conhecimento correto da salvação tendo noções distorcidas do Deus que salva. Então,
qual seria a descrição confiável do Senhor? Como saber o que ele é? Jamais
saberíamos se ele mesmo não se revelasse graciosamente a nós por meio das
Escrituras Sagradas. São elas que nos informam quem Deus é revelando-nos os
seus atributos. Os atributos são as qualidades ou virtudes ou perfeições que
revelam o ser de Deus. A essência ou o caráter de Deus encontra-se em cada um
de seus atributos.
Dessa
forma, os atributos de Deus podem ser:
a) Incomunicáveis:
são aquelas qualidades que distinguem Deus do homem, isto é, são exclusivas de
Deus e não foram comunicadas ao homem;
b) Comunicáveis:
são aquelas qualidades que fazem parte do ser divino e que foram comunicadas em
alguma medida, pequena porção para sermos mais precisos, ao homem.
Entre os
atributos incomunicáveis de Deus, registrados na resposta da pergunta 4 do
Breve Catecismo, que demonstram a sua total independência em relação à sua
criação, aprendemos que:
1.
Deus é Espírito:
isso significa que ele não possui natureza corpórea como os homens (Jo 4.24).
Os anjos também são seres unicamente espirituais, porém são criaturas de Deus e
dependentes dele. Os homens, além do corpo, possuem a parte imaterial: o
espírito. A essência do homem é, portanto, composta da união do espírito com o
corpo. Porém, ele está inserido nesse contexto e não pode sair dele. Isso o
coloca também numa condição de dependência de Deus. Somente o nosso Senhor é
espírito infinito e puro e possui natureza espiritual totalmente independente.
2.
Deus é infinito:
isso significa ser impossível medir ou quantificar os atributos do ser divino.
A infinidade de Deus pode ser vista em relação ao tempo, sendo chamada de
eternidade, e em relação ao espaço, sendo chamada de imensidão.
2.1.
Deus é eterno:
para o Deus eterno não existe passado, presente ou futuro, pois ele criou o
tempo (Sl 90.2-4). Deus dura para sempre, sendo sem começo e sem fim. Ele não
envelhece e não experimenta declínio. Quando passarmos por provações, devemos
lembrar que elas são temporais, momentâneas comparadas com a eternidade de
Deus. Somente devem ser motivo de preocupação as realidades que duram para
sempre, como o nosso relacionamento com Deus.
2.2.
Deus é imenso:
essa característica assinala que Deus transcende ou vai além do espaço criado.
Ele enche o céu e a terra, que não podem contê-lo (I Rs 8.27; Is 66.1, 2; At
7.48-50). A onipresença de Deus está relacionada com a sua imensidão, ou seja,
Deus está presente em cada parte do espaço porque enche cada parte dele (Sl
139.7-10). É terrível para os ímpios saber que não podem ocultar-se de Deus e
tudo está patente aos seus olhos (Hb 4.13). Para os crentes, a onipresença
divina é motivo de conforto nas horas de aflição (Sl 46.1-5; Is 43.2). A
onipresença de Deus é estímulo também para uma vida de santidade (Is 57.15).
3.
Deus é imutável em seu ser:
isso significa que Deus não é passível de mudança. Em Deus não há progresso nem
retrocesso. Ele não experimenta aumento nem diminuição em suas capacidades (Tg
1.17). Por essa razão, podemos confiar inteiramente nele, pois ele não muda
jamais (Sl 102.25-27).
A Bíblia nos revela que Deus é imutável em:
a) seus
decretos: os planos de Deus prevalecem sobre os planos humanos (Pv 19.21);
b) suas
promessas: podemos ter certeza absoluta que Deus agirá de modo fiel, não aos
homens, mas aos seus propósitos (II Tm 2.13);
c) seu
amor: quando Deus põe o seu amor em alguém vai até o fim ou às últimas
consequências (Jo 13.1);
d) sua
verdade: a veracidade das palavras de Deus nas Escrituras permanecerão para
sempre (Lc 21.33);
e) sua
misericórdia: por isso Deus não a removerá de seu povo (Sl 103.10; Is 54.10).
A
nossa confiança e descanso no Deus imutável auxiliarão nossos filhos e as
pessoas que nos cercam a, observando-nos, agirem assim também. A força, a
esperança e a coragem da Igreja no presente e para o futuro dependerão de como
verá e aplicará o ensino da imutabilidade de Deus.
4.
Deus é sábio:
a sabedoria é o conhecimento aplicado nos vários eventos da vida. O
conhecimento é o alicerce, a sabedoria é a construção. O conhecimento é a
causa, a sabedoria é o efeito. Os homens possuem sabedoria, porém Deus é a
sabedoria. Os homens adquirem sabedoria com os anos de vida, mas a sabedoria de
Deus é eterna com ele e o acompanhou na criação de todas as coisas (Pv
8.22-31). A sabedoria divina é revelada de modo especial em Cristo. Jesus é a
sabedoria de Deus para a salvação de pecadores (I Co 1.22-24). E a Igreja é a
proclamadora dessa sabedoria de Deus (Ef 3.8-13). Sabem
por que encontramos homens incultos que sobrepujam em sabedoria o erudito?
Porque possuem o conhecimento da Palavra de Deus e o aplicam nas várias
situações da vida (Sl 119.99, 100).
5.
Deus é poderoso:
o poder soberano de Deus é a sua capacidade de fazer acontecer o que determina
que aconteça. Se manifesta no fato de levar a cabo o que deseja. Ninguém pode
inclinar o coração de outra pessoa para fazer o que a primeira deseja, porém
Deus pode fazer isso pelo seu poder (Pv 21.1). Somente Deus tem poder para
penetrar no íntimo dos homens e imprimir neles a sua vontade (Ed 1.1-3). Deus
criou todas as coisas e as preserva pelo seu poder (Ne 9.6). Além disso, em
cada movimento que fazemos somos dependentes do seu poder (At 17.28). Em razão
do poder de Deus, teremos conforto nas aflições e socorro nas tentações (Sl
46.1; 121.1, 2). Deus pode até nos ferir, mas é ele quem nos sara as feridas;
ele pode nos dar a dor, porém dele vem a consolação. Portanto, confie, submeta-se
e refugie-se no poder de Deus (I Pe 5.6, 7).
6.
Deus é santo:
Ser santo significa ser separado ou retirado do uso comum. Deus é santo porque
é totalmente distinto e separado de suas criaturas. Essa santidade está
vinculada ao seu ser glorioso e é, portanto, um atributo incomunicável (Is
57.15). Porém, Deus também é santo no sentido de estabelecer leis santas para
os homens observarem. É esse aspecto da santidade de Deus que vamos refletir. Sendo
assim, podemos dizer que a santidade divina é manifestada nas Escrituras
Sagradas por meio dos mandamentos puros e santos que estabeleceu (Sl 19.8).
Porque Deus é santo, a nossa maneira de viver e de lhe prestar culto deve ser
conformada a esses mandamentos. De modo especial, a santidade de Deus se revela
na redenção do pecador por meio da morte de seu filho na cruz. Jesus foi
rejeitado para satisfazer as exigências da santidade divina (Is 53.3-5, 10).
Foi a santidade de Deus que levou Jesus ao Calvário para ser punido em lugar de
pecadores. Isso significa que, porque Deus é santo, tem perdoado o pecador, mas
jamais deixado de punir o pecado, ou seja, para que o pecador fosse perdoado,
Cristo tomou o seu lugar e pagou o preço da redenção.
Dessa
forma, o reconhecimento da santidade de Deus é que nos tornará pessoas humildes
e submissas a sua vontade (Lc 5.8).
7.
Deus é justo:
vinculada à santidade, a justiça de Deus se manifesta no fato de dar a cada um
o que é devido. Se relaciona à distribuição da recompensa aos obedientes e do
castigo aos rebeldes (Rm 2.5-8). A
recompensa dos justos não é baseada em seu mérito (Lc 17.10), mas é produto da
graça divina (I Co 15.10). Deus retribui com bênçãos os crentes porque ele é
fiel às suas promessas, ou seja, ele é fiel a si mesmo. Em nenhum momento, Deus
se torna devedor aos homens por suas obras. A aplicação da penalidade aos
rebeldes é o outro aspecto da justiça divina. Em razão da sua natureza, Deus
está obrigado a castigar o mal assim como premiar o bem. O pagamento da
desobediência à lei de Deus se observa em Rm 12.19 e II Ts 1.6-9. Sendo
assim, a justiça divina nos motiva a testemunhar de Jesus para que o homem
arrependido de seus pecados creia em Cristo e seja liberto da condenação eterna
(At 3.19, 20; 17.30, 31)
8.
Deus é bondoso:
a bondade de Deus é a sua disposição favorável para com toda a sua criação.
Essa bondade independe da motivação existente nas próprias criaturas. Os homens
podem ser bondosos em alguns momentos, porém eles não têm o hábito da bondade.
Já a bondade divina dura para sempre (Sl 52.1). Os animais são objetos da
bondade divina (Sl 145.15-17). Por isso, ficamos indignados com maus tratos de
alguns para com eles. Os homens, inclusive os que rejeitam a pessoa do Senhor,
são objetos da sua bondade (Mt 5.45; At 14.17). Mesmo que não possuam um
caráter salvador, Deus bondosamente concede bênçãos aos homens que os enchem de
alegria (Sl 36.7, 8).
Por fim,
ainda que os crentes não sejam os únicos a receber a bondade de Deus, são os
únicos a reconhecê-la e a viverem de modo agradecido por ela (Sl 33.1-5).
9.
Deus é verdadeiro:
a verdade de Deus está intimamente relacionada à sua fidelidade, por isso as
palavras do Senhor são fiéis e verdadeiras. Em outras palavras, quando a Bíblia
diz que Deus é fiel está declarando que ele é verdadeiro em todas as suas
afirmações. O homem continua sendo humano a despeito de não ser verdadeiro, mas
a verdade é essencial em Deus que “não é homem para mentir nem filho de homem
para se arrepender ...” (Nm 23.19). Deus é verdadeiro na aliança que
estabeleceu com o seu povo (Dt 7.9). Deus é verdadeiro em relação ao que
determinou fazer até o tempo do fim (Gn 8.22). Deus é verdadeiro em suas
ameaças contra os que o rejeitam (Hb 3.11). Deus é verdadeiro em suas promessas
de socorro ao seu povo (I Co 10.13). Desta forma, podemos confiar em Deus
porque ele é sempre verdadeiro em tudo o que diz.